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sábado, 27 de fevereiro de 2010

16ª parte do conto




- Vaaaaaal. – eu chamei a minha prima.
   Ela não respondeu. Simplesmente apareceu com aquela rabugenta de sempre na cozinha e pareceu se surpreender com a visita.
   Logo depois que olhou para o Níkolas direcionou o olhar pela janela e viu o carro. A atmosfera mudou imediatamente.
   - Seu namorado? – ela perguntou como se implorasse por um sim.
    Ela tinha reparado nele e percebido que ele era bem rico. Afinal, ele estava com roupas elegantes e o carro la fora denunciava que ele era de ‘boa’ família.
   - Não, é meu amigo. – ela pareceu se decepcionar com a resposta.
   Ele se levantou num ato de educação e apertou a mão dela.
   - Níkolas Cardoso, prazer.
   Ela pareceu se iluminar quando ele disse o nome dele.
   - Seu pai é o ...
    - Ele mesmo. – ele respondeu interrompendo. Ele tinha se constrangido com a pergunta e eu também. Era evidente o tom de interesse na voz da minha prima quando ela perguntou. É claro que ela deduziu de imediato quando ele disse ‘Cardoso’ que ele era filho do engenheiro famoso e não estava acreditando que eu podia ser amigo de alguém tão rico.
   - Posso servir alguma coisa pra você? – ela perguntou. Se fosse qualquer outra pessoa imagino que ela não iria oferecer nada.
   - Não, estou bem. Obrigado!
    - Não, mas eu faço questão. Tem uma massa de bolinho de fubá ali e eu frito para você. – eu abaixei a cabeça para esconder a minha vergonha.
Bolinho de fubá? Ela estava brincando, só podia.
   Ele deveria comer só coisas chiques e requintadas, e ela oferecia para ele bolinho de fubá? Era muita humilhação.
   ¬ - Fico grato. Eu nunca comi isso antes. – tamanha educação dele me deixava com mais vergonha ainda.
   Houve um silêncio muito constrangedor.
    - Eu queria pedir sua permissão para levar a Lisa comigo numa viagem. – ele disse. Eu pensei que eu teria que perguntar, mas ele foi mais rápido.
   - É claro que sim. – ela disse com educação.
Ele estranhou uma resposta tão rápida e tão direta, sem perguntar nada. Fui no meu quarto, peguei algumas coisas, deixei meu uniforme, tomei um banho, coloquei uma roupa melhorsinha e cerca de quinze minutos depois eu estava pronta.
   - Estou pronta. – eu disse quando voltei a cozinha quebrando o silêncio que se seguia.
   - Ta. Vamos só esperar os bolinhos e nós vamos embora.
   - Mas e o motorista? – eu disse como se implorasse para irmos embora.
   - Ele é pago para me esperar, Lisa.
   Olhei pra Val e pude ver um sorrisinho no rosto dela enquanto fritava os bolinhos.
   O silêncio era profundo e quando os bolinhos ficaram prontos o Níkolas pareceu se iluminar quando os viu.
   - Parece uma delícia. – disse ele fitando os bolinhos.
   - Coma. – eu falei. Parecia que ele estava esperando só a minha autorização.
   E estava!
   Pegou um bolinho imediatamente e mordeu.
   - Nossa, é delicioso.
   Me espantei com a sinceridade dele.
   - Posso? – ele perguntou como se pedisse permissão para pegar um segundo bolinho. Realmente, tamanha educação me assustava.
   - É claro. – disse a minha tia.
   Ele comeu aquilo como se fosse a comida mais sofisticada do mundo.
   - Vou embalar para a viagem. – disse a Val.
   Fiquei com mais vergonha ainda.
   Para minha surpresa ele disse com toda sinceridade:
   - Eu adoraria!
Ela fritou mais bolinhos e colocou numa vasilha. Ele pegou aquilo como um presente precioso e se levantou, foi até a minha tia, pegou sua mão e disse:
   - Foi um prazer, senhora. Muito obrigado.
   Ela sorriu e disse toda orgulhosa:
   - Igualmente, querido. Venha sempre comer mais bolinhos.
   - Claro que sim.
   Eu saí morta de vergonha e não disse uma palavra.
   Quando chegamos no carro eu disse:
   - Desculpa pela indelicadeza dela.
    - Você não tem culpa, Lisa. Eu estou acostumado com isso. – e passou o braço pelo meu ombro como se abrassasse e me deu um beijo no rosto.
   Me senti congelar e pelo retrovisor vi o motorista dar uma risadinha.

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