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sábado, 27 de fevereiro de 2010

16ª parte do conto




- Vaaaaaal. – eu chamei a minha prima.
   Ela não respondeu. Simplesmente apareceu com aquela rabugenta de sempre na cozinha e pareceu se surpreender com a visita.
   Logo depois que olhou para o Níkolas direcionou o olhar pela janela e viu o carro. A atmosfera mudou imediatamente.
   - Seu namorado? – ela perguntou como se implorasse por um sim.
    Ela tinha reparado nele e percebido que ele era bem rico. Afinal, ele estava com roupas elegantes e o carro la fora denunciava que ele era de ‘boa’ família.
   - Não, é meu amigo. – ela pareceu se decepcionar com a resposta.
   Ele se levantou num ato de educação e apertou a mão dela.
   - Níkolas Cardoso, prazer.
   Ela pareceu se iluminar quando ele disse o nome dele.
   - Seu pai é o ...
    - Ele mesmo. – ele respondeu interrompendo. Ele tinha se constrangido com a pergunta e eu também. Era evidente o tom de interesse na voz da minha prima quando ela perguntou. É claro que ela deduziu de imediato quando ele disse ‘Cardoso’ que ele era filho do engenheiro famoso e não estava acreditando que eu podia ser amigo de alguém tão rico.
   - Posso servir alguma coisa pra você? – ela perguntou. Se fosse qualquer outra pessoa imagino que ela não iria oferecer nada.
   - Não, estou bem. Obrigado!
    - Não, mas eu faço questão. Tem uma massa de bolinho de fubá ali e eu frito para você. – eu abaixei a cabeça para esconder a minha vergonha.
Bolinho de fubá? Ela estava brincando, só podia.
   Ele deveria comer só coisas chiques e requintadas, e ela oferecia para ele bolinho de fubá? Era muita humilhação.
   ¬ - Fico grato. Eu nunca comi isso antes. – tamanha educação dele me deixava com mais vergonha ainda.
   Houve um silêncio muito constrangedor.
    - Eu queria pedir sua permissão para levar a Lisa comigo numa viagem. – ele disse. Eu pensei que eu teria que perguntar, mas ele foi mais rápido.
   - É claro que sim. – ela disse com educação.
Ele estranhou uma resposta tão rápida e tão direta, sem perguntar nada. Fui no meu quarto, peguei algumas coisas, deixei meu uniforme, tomei um banho, coloquei uma roupa melhorsinha e cerca de quinze minutos depois eu estava pronta.
   - Estou pronta. – eu disse quando voltei a cozinha quebrando o silêncio que se seguia.
   - Ta. Vamos só esperar os bolinhos e nós vamos embora.
   - Mas e o motorista? – eu disse como se implorasse para irmos embora.
   - Ele é pago para me esperar, Lisa.
   Olhei pra Val e pude ver um sorrisinho no rosto dela enquanto fritava os bolinhos.
   O silêncio era profundo e quando os bolinhos ficaram prontos o Níkolas pareceu se iluminar quando os viu.
   - Parece uma delícia. – disse ele fitando os bolinhos.
   - Coma. – eu falei. Parecia que ele estava esperando só a minha autorização.
   E estava!
   Pegou um bolinho imediatamente e mordeu.
   - Nossa, é delicioso.
   Me espantei com a sinceridade dele.
   - Posso? – ele perguntou como se pedisse permissão para pegar um segundo bolinho. Realmente, tamanha educação me assustava.
   - É claro. – disse a minha tia.
   Ele comeu aquilo como se fosse a comida mais sofisticada do mundo.
   - Vou embalar para a viagem. – disse a Val.
   Fiquei com mais vergonha ainda.
   Para minha surpresa ele disse com toda sinceridade:
   - Eu adoraria!
Ela fritou mais bolinhos e colocou numa vasilha. Ele pegou aquilo como um presente precioso e se levantou, foi até a minha tia, pegou sua mão e disse:
   - Foi um prazer, senhora. Muito obrigado.
   Ela sorriu e disse toda orgulhosa:
   - Igualmente, querido. Venha sempre comer mais bolinhos.
   - Claro que sim.
   Eu saí morta de vergonha e não disse uma palavra.
   Quando chegamos no carro eu disse:
   - Desculpa pela indelicadeza dela.
    - Você não tem culpa, Lisa. Eu estou acostumado com isso. – e passou o braço pelo meu ombro como se abrassasse e me deu um beijo no rosto.
   Me senti congelar e pelo retrovisor vi o motorista dar uma risadinha.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

15ª parte do conto

gente, desculpas por não ter postado ontem, estou meio ocupada essa semana.
por isso to postando partes maiores.
obrigada, beijos :* s2



Quando finalmente cheguei no quarto ela estava la estudando.
   - Oi. – eu arrisquei tentando ser educado.
   Ela se virou, olhou pra mim e perguntou:
   - Você esta melhor?
   Tinha um ar inconfundível de ternura nela que me fez querer abraçá-la e não soltar mais. Mas é claro que eu não fiz isso.
   - Melhor que ontem, mas não muito bem. – eu estava sendo sincero.
   - Eu sinto muito por tudo isso que ta acontecendo.
   - Um pouco é você que provoca. – imediatamente me arrependi de ter dito isso.
Ela me olhou com uma cara de espanto e dúvida.
   - É que você é tão misteriosa as vezes. – e tentei ri e esconder através do riso a minha vergonha.
   - Eu? Por quê? – ela disse com um ar de graça na voz.
    - Sei la, é que eu não entendo o que acontece com você. As vezes é como se nós nos conhecêssemos a anos, e as vezes parecemos estranhos. E isso me deixa intrigado, o que me obriga a ficar pensando em mais coisa do que eu deveria. – eu ri.
   Ela riu.
   - Desculpa. Prometo ser como sua melhor amiga daqui para frente. – ela riu mais ainda.
    - Mas você esta realmente sendo a minha melhor amiga. – que coisa idiota a ser dita. Eu mal a conhecia, mas é que foi o que me veio a cabeça e eu disse isso num tom completamente sério... e sincero!
    Ela se espantou com o que eu disse mas estava feliz por ter ouvido aquilo. Ela não ria, mas estava com uma expressão de felicidade.
   - Você também é muito especial pra mim. – ela disse, sorriu e ficou me olhando com aquele rosto tão fora dos padrões de beleza, mas especialmente lindo para mim.
   O assunto se encerrou ali e eu fui para o banheiro – naquele quarto minúsculo la era o único refugio.
    Eu gostava dela, mas eu queria simplesmente protegê-la, ajudá-la... e não outras coisas que eu deduzi que sentiria se estivesse apaixonado por ela. Ou seja, eu estava começando a desenvolver um sentimento verdadeiro, mas não uma paixão... era amizade, das grandes!
   Mas eu não sabia dizer ao certo se era realmente isso.
   Eu estava muito confuso com tudo.
    O fato era que desde que ela aparecera na minha vida tudo tinha ganhado um colorido especial e os meus problemas estavam sendo mais fáceis de resolver. Para mim não importava o papel que ela desempenhasse – amiga ou namorada – o fato era que eu gostava de tê-la por perto e não queria que isso mudasse jamais!

Dias perfeitos existem sim.

    Eu estava mais feliz do que jamais estive em muito tempo. As coisas realmente estavam boas pra mim, estavam se encaixando. Eu tinha o melhor amigo do mundo – e o único – e isso me confortava. Só tinha um problema: o final de semana estava ali, batendo na porta.
   Eu não queria voltar para casa, eu queria me refugiar na escola para sempre e de preferência com o Níkolas, mas isso era impossível.
Nós conversávamos até tarde da noite, brincávamos um com o outro e sempre que podíamos almoçávamos juntos.
    Nós éramos desconhecidos naquela escola, então comentários não existiam. O único defeito é que eu sabia que quando saíssemos para passar o final de semana cada um em suas respectivas casas, as coisas iriam mudar muito. Afinal se havia alguma certeza no meio disso tudo era que nós dois pertencíamos a mundos completamente distintos e intocáveis.
- Minha mãe vai para casa de uma tia minha, passar um tempo por la por causa do que aconteceu com o meu pai. Não é bom para ela ficar tão sozinha em casa. – ele me disse no almoço de quinta feira.
   - É, não é bom mesmo.
   - Pois é. O difícil agora é que eu vou ter que ir para a casa dela esse final de semana. E eu não gosto dessa coisa de ficar incomodando as pessoas.
   - Então não vai ué.
   - Se eu não for minha mãe morre, tenho certeza. – e ele riu dando três tapinhas na mesa para afastar o azar.
   - É, então não tem como você não ir. Mas onde sua tia mora?
   - É aqui em São Paulo mesmo, mas é uma fazenda, fora da cidade.
   - Ah ta! – eu disse.
    Se seguiu um silêncio que agora deixava de ser muito constrangedor, mas não era legal. Já tínhamos acabado de almoçar e estávamos só fazendo uma hora.
Vamos?
   - Vamos. – e me levantei da mesa para ir embora.
   Ele riu e disse:
   - Não Lisa... vamos pra fazenda comigo?
    Eu fiquei muito sem graça. Não sabia dizer se era por ter entendido errado ou pelo convite. Ninguém nunca me chamava para nada e agora e ele estava me chamando para ir passar um final de semana inteiro com ele.
   - Vamos, por favor! – ele insistiu quando percebeu que eu não respondia – Vou ficar la o tempo todo sem fazer nada. E la é bem legal.
   - Mas você não vai para passar o tempo com a sua mãe?
    - É. Mas ela sempre gosta de ficar na cozinha com a minha tia e então eu fico muito por fora dos assuntos. E onde já se viu melhores amigos que não conhecem os pais um do outro? – e ele deu um sorriso tímido que me encantava.
   - Ué, tenho que ver com a minha prima. Acho que ela não se importa.
   - Ta bom. Amanhã, quando formos sair, eu passo na sua casa e nós conversamos com ela.
    Eu fiquei com muita vergonha dele ir na casa da minha prima. A casa era muito simples e ele era rico. Também fiquei com medo da reação dela, ela poderia brigar com ele, ser grosseira, essas coisas. Fiquei apreensiva, mas eu não tinha escolha... ele estava decidido.

Quando chegou finalmente a sexta feira ele já estava no quarto, com as coisas prontas para sairmos, quando eu cheguei.
   - Arruma suas coisas rápido que o motorista já esta ali esperando.
   Motorista? Nossa! Fiquei meio sem jeito.
   Arrumei tudo muito rápido e fomos para a casa da minha tia.
    Quando chegamos la ele pareceu indiferente como o fato da casa ser bastante humilde. Entrou comigo como se estivesse entrando numa casa de família bastante rica. Conversava comigo sem olhar para nada, pediu licença ao entrar – num ato de educação – e se sentou na mesa com uma postura incrível. Olhava só para mim e não ficava encarando as coisas como se tudo aquilo fosse uma grande aberração.
   Se ele fazia isso de propósito, eu não sei. Mas o fato é que se ele estivesse fingindo estar confortável, ele realmente era um bom ator.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

14ª postagem

Nós ficamos ali abraçados um bom tempo.
    Enquanto o tempo passava e nós dois ficávamos ali, sem falar nada, um turbilhão de pensamentos iam me atingindo: eu não sentia por ele o mesmo desejo que eu senti ao ver o menino na escada. Eu não sentia vontade de beijá-lo ou coisa assim. Era a companhia, a preocupação – embora pouco demonstrada – e o jeito dele que me agradava. Isso era completamente diferente de todo o resto.
   Foi ai que eu vi que não tinha nada de atração entre eu e ele... quer dizer, havia sim. Havia uma vontade imensa de ficar junto, de compartilhar as coisas. Mesmo sem dizer nada, era confortante o fato de que ele estava ali em algum lugar. Mesmo sem nunca termos conversado muito ou termos compartilhado momentos, eu não me via mais sem ele. Eu não sabia se seria possível eu existir sem que ele estivesse comigo. Era como se naquela semana em que nós ficamos sem dizer quase nada um para o outro, nós estivéssemos lendo nossos pensamentos.
   Ele não se abriria daquela forma comigo se eu não significasse nada para ele, e eu não o ajudaria se ele não significasse nada para mim. Eu compreendi que o valor que nós tínhamos um para o outro era indiscutível. Havia entre nós dois o que muitas pessoas chamam de amizade... mas eu preferia chamar de amor mais sublime!

Tudo tão difícil.

    Diferenças a parte, ele era meu pai. Embora não houvesse entre nós muito entendimento eu o amava de alguma maneira, e não tê-lo mais comigo era simplesmente insuportável.
   E a minha mãe? Nossa, estava inconsolável. Ela, naquela casa enorme, sem ninguém. Eu fiquei com ela durante algum tempo, mas eu tive que voltar para a escola e isso não era nada agradável.

Como se já não bastasse tudo isso, tinha a Elizabeth.
    Eu sentia por ela o que eu nunca havia sentido por ninguém. Mas eu não sabia explicar se era só amizade ou algo mais, afinal, eu nunca havia sentido nenhum dos dois em toda a minha existência. Tudo era muito confuso.
   O fato era que eu não conseguia mais me afastar dela, eu queria muito ficar com ela o tempo todo, e a força que ela tinha me dado no quarto foi inesquecível.
Eu deitei para dormir, sem saber no que pensar.
    Eu fechava os olhos e a imagem do meu pai invadia a minha mente juntamente com a expressão de preocupação no rosto da Elizabeth.
   Era duas coisas que eu não queria esquecer, mas não queria lembrar agora.
Mas a vida tem dessas coisas né? Quando a gente procura tirar tudo da cabeça, quando a gente quer ter uma aminésia e esquecer de tudo que a gente já passou e esta passando, é realmente quando as coisas não saem por nada do pensamento.
   O pior é que as coisas também sempre acontecem todas de uma vez, uma atrás da outra, sem pedir licença nem nada. Vão acontecendo, acontecendo, acontecendo e é inevitável que você não fique um pouco doido com tantas coisas.
Eu tentei dormir e tentei esvaziar a minha mente, mas não consegui – nem dormir, nem deixar de pensar.
    Noites de insônias estavam sendo normais, mas eu teria que enfrentar um dia cheio e eu precisava mesmo descansar. Mas não dava para dormir com tudo aquilo.
Quando finalmente peguei no sono, o dia amanheceu – outro detalhe desagradável que sempre acontece.
   Fui assistir as minhas aulas.
    A repentina intimidade que tinha surgido entre eu e a Elizabeth na noite interior parecia ter desaparecido, embora eu quisesse muito aquele abraço de novo.
   Nós nos levantamos e saímos do quarto sem falar nada um com o outro como.
   Na hora do almoço não nos encontramos e depois da aula eu resolvi ficar até mais tarde na biblioteca.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

13ª parte do conto

A semana se passou e nada do Níkolas.
   Eu estava ficando confusa e preocupada.
   Final de semana chegou e eu voltei para o meu inferno pessoal.
    Eu estava ali, mas era como se não estivesse. Ninguém parecia me notar, ninguém parecia se importar comigo. Quer dizer, ninguém me notava nem se preocupava, definitivamente.
A imagem do menino da escada me perseguia, juntamente com a vontade de rever meu amigo-calado-do-quarto. E nenhum dos dois nunca aparecia.
   Finalmente, na quarta feira, para o fim da minha ansiedade, quando eu cheguei no quarto, depois do almoço para pegar as minhas coisas – eu estava atrasada – eu o vi, finalmente, deitado na cama, de olhos fechados e, pelo que parecia, num sono profundo.
   Tentei não fazer barulho para não acordá-lo, embora soubesse que se não fizesse isso ele acabaria se atrasando pra aula.
Eu não me importava com isso. Eu queria ficar ali e esperar a primeira aula do dia passar enquanto eu ficava olhando ali para ele, dormindo, quietinho. Mas eu sabia que se fizesse isso, alguém viria atrás de mim. Ou melhor, iria até o meu verdadeiro quarto e não me acharia. E como o Níkolas também não estaria em sala, eles viriam até o quarto e nos pegariam ali. Ia ser confusão, então, com muita relutância, resolvi chamá-lo:
   - Níkolas, Níkolas.
   Ele se remexeu e abriu os olhos.
   - Ta na hora da aula. Vamos!
   Os olhos dele estavam inchados e eu vi que ele tinha chorado.
   - Ta tudo bem? – eu perguntei.
   Ele ficou calado um tempo e finalmente disse:
   - Ta! – se levantou, pegou as coisas e saiu do quarto.
Ele estava estranho e eu vi que ele não tinha sido nada sincero comigo quando disse que estava tudo bem.
   Fui para a aula com a minha cabeça longe.
    Nunca nada acontecia comigo, então eu sempre tinha capacidade emocional de me concentrar. Agora minha vida estava uma loucura e prestar atenção na aula definitivamente não dava.
Quando voltei pro meu quarto, no fim da aula, ele já estava de novo deitado na cama e dormindo – ou pelo menos fingindo.
    Tomei meu banho, voltei para o meu verdadeiro quarto para a contagem e depois, quando eu estava indo dormir, ele finalmente resolveu falar:
   - Você esta ocupada?
   - Não pra você. – me odiei por ter falado isso.
    Nessa hora o menino da escada veio na minha cabeça na hora e eu fiquei um pouco tonta com o a incoerência entre o que eu tinha dito e com o que eu pensava.
   Ele pareceu se intimidar com minha resposta e depois de algum tempo, falou:
    - Aconteceu uma tragédia. – eu percebia nitidamente na voz dele o quanto dizer aquilo estava sendo difícil. Levantei da minha cama e sentei ao lado dele, na dele.
   Num impulso ele segurou a minha mão e eu me senti petrificar.
Não falei nada, esperei ele dizer alguma coisa. Mas ele não disse.
   - O que foi? – eu disse tentando reunir na voz toda ternura que existia em algum lugar dentro de mim.
   - Meu pai... – ele engoliu seco – sofreu um acidente.
   Lágrimas escorriam no rosto dele e eu sabia como era perder um pai. Sabia que estava sendo muito difícil pra ele.
    - Ele estava numa construção que estava projetando, quando uma peça de metal desprendeu e o atingiu. Minha mãe esta inconsolável. – eu também sabia o que era ver uma mãe inconsolável.
   - Mas o que seu pai faz? – me senti mal por ter perguntando, mas minha curiosidade foi maior.
   Ele teve uma certa dificuldade em responder, e eu não entendi o porquê.
   - Ele é engenheiro.
    Filho de engenheiro numa escola daquela? Que coisa estranha! Ali eu entendi que havia muita coisa na vida dele que eu desconhecia completamente, mas que eu desejava saber. Não era a hora para isso, e então eu fiz a pergunta mais difícil:
   - E ele esta bem? – era claro que não estava.
    - Não, Lisa. Ele não resistiu e morreu. – e aos prantos ele se encostou no meu ombro. Eu o abracei com uma das mãos, enquanto ele segurava a outra, e fiquei completamente confusa: ele havia me chamado de Lisa – o que ninguém nunca havia feito – e eu fiquei feliz com nosso grau de intimidade, embora estivesse muito triste por ele estar passando por tudo aquilo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

12ª parte do conto

O amor mais sublime.

    Eu tinha certeza de que ele tinha chorado na noite passada enquanto eu orava. Eu não sabia por que e nem quis perguntar. Era como se eu precisasse do silêncio entre a gente para me manter forte... qualquer palavra parecia me desmoronar.
O fim da semana estava próximo e era extremamente insuportável saber que eu teria que voltar para casa.
    Mas voltei. Quer dizer, não pra minha casa, mas para casa da minha prima, o que piorou e muito as coisas. Eu me sentia um peixe totalmente fora d’água.
   - Lisa, como você foi para a escola na segunda feira? – estranhei muito ela ter se preocupado com isso... e só agora.
   - Eu sabia mais ou menos. Quando viemos da rodoviária nós passamos em frente. É um pouco longe, mas deu pra ir.
   - Ah! – ela suspirou.
   Engraçado né? Acho que qualquer pessoa em sã consciência se preocuparia, mas ela pareceu indiferente.
Os dias se passaram arrastados e quando eu acordei na segunda feira eu estava muito animada.
    Quando cheguei na escola e coloquei minhas poucas coisas no meu quarto – ou melhor, no quarto do Paulo e do Níkolas – eu percebi que não havia nenhuma coisa dele por lá. Eu confesso que me desesperei completamente.
   Eu podia não falar nada com ele, mas era muito estranho não tê-lo por perto.
    Era como se eu soubesse que no meio de tanta coisa, no meio de tanta complicação, haveria alguém pra me apoiar quando eu precisasse. Era verdade que eu tentava ao máximo não dizer alguma coisa, mas era muito bom saber que se eu precisasse ele estaria ali para me ouvir.
   Ele também parecia me evitar, mas eu sabia que ele pensava parecido comigo. Não tinha como saber certamente, mas eu sentia isso.
Os dias passavam como se tivessem setenta e duas horas, e não vinte e quatro. Pareciam nunca acabar.
   Mas foi na quarta feira que eu compreendi tudo aquilo que estava acontecendo comigo.
    Eu estava voltando do almoço... eu estava subindo a escada, de cabeça baixa, absorta – como sempre – nos meus infinitos pensamentos, quando de repente bati em alguém.
   - Desculpa! – disse a voz.
   Quando olhei para ver quem era quase caí para trás. Em todos os meus sonhos românticos, eu nunca havia imaginado ninguém como ele. Era um menino lindo. Quer dizer, não era a coisa mais linda do mundo, mas ele tinha um sorriso, um olhar de compaixão que me enfeitiçou e eu senti cada músculo, cada artéria, cada célula do meu corpo se estremecendo.
Eu não consegui falar nada. Só sorri e continuei subindo a escada.
   Não era isso que eu tinha sentido quando vi o Níkolas. Era uma coisa completamente desconhecida para mim.
    Cheguei no meu quarto e deitei na cama pensando naqueles olhos, pretos e profundos, olhando pra mim e sorrindo. Como eu era idiota! Um menino daquele nunca falaria comigo. Eu era magrela, com um uniforme cinco números maiores que eu, cabelo ruim, pobre e nenhuma coisa para chamar atenção. E ele? Ele era do tipo que só se interessava por garotas perfeitas, e perfeição, definitivamente, não era meu forte.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

11ª parte do conto

Meninas, desculpem não ter postado ontem , não deu tempo ... mas hoje postei uma parte maior.
beijos :*




Eu já tinha tomado meu banho, mas eu não queria encontrá-la de novo. Eu não queria transparecer estar apaixonado e, o pior, provar pra mim mesmo isso.
   Eu nunca entendia por que as pessoas faziam algo que sempre as faria sofrer, ou seja, eu não sabia por que as pessoas insistiam em amar umas as outras.
   Eu acreditava no amor sim, mas não da maneira que todo mundo diz. Eu gostava das pessoas – da minha família (amigos eu não tinha) – mas não amava. Eu não suportava fazer de uma pessoa o motivo da minha vida, e agora eu detestava a hipótese de me ver sem a Elizabeth.
Saí do banho e ela estava la, absorta em pensamentos. Eu queria lê-los, mas ela não transparecia nenhum sentimento. Demorou alguns segundos pra perceber que eu tinha chegado. Quando me viu, não disse nada. Simplesmente pegou as suas coisas e foi tomar o seu banho. Eu deitei na cama tentando de todas as maneiras me concentrar no meu livro, mas eu apenas lia as palavras. Meus pensamentos estavam longe, nem sei onde ao certo.
   Em questão de pouco tempo, ela saiu do banho. Ela parecia muda, incapaz de falar qualquer coisa que fosse.
   Tirou os cadernos da mochila e começou a estudar.
Eu não sabia como ela podia se concentrar... concentração, naquela hora, era algo muito impossível pra mim. Olhei pra ela ali, com a cabeça entre as mãos, lendo, lendo, lendo e me perguntei se ela sentia alguma coisa por mim.
   Me senti um completo idiota por estar admitindo isso... eu não podia estar apaixonado, não podia mesmo! Isso não existia, com certeza não existia. Mas se não existia, o que era aquilo que eu estava sentindo? Eu daria tudo para entender como funcionava a cabeça dela... daria tudo para entender o que eu estava sentindo e não querendo sentir... eu daria qualquer coisa pra, finalmente, entender tudo isso!
 Depois de me convencer que era realmente impossível manter a minha atenção no livro, eu levantei – e ela pareceu nem notar – fui ao banheiro, escovei meus dentes e voltei para cama e fui dormir.
   - Boa noite. – ela me disse, o que me assustou.
   - Boa noite! – eu respondi completamente sem graça.
    Virei para o canto. A luz do quarto estava acesa porque ela estava estudando. Mas na verdade eu não queria dormir, eu queria simplesmente pensar nas muitas coisas que tinham acontecido naquele dia.
Quando, do nada, a luz se apaga. Ela então acendeu o abajur da escrivaninha. Achei delicado o gesto dela.
   - Pode deixar acesa se você quiser – eu disse tentando parecer educado.
   - Não. Eu enxergo bem!
    Pelo tom que ela tinha usado, deduzi que a conversava estava encerrada. Me aconcheguei e tentei cair no sono. O silêncio estava sendo muito chato. As vezes eu ouvia o virar das folhas do livro, ou alguma coisa assim.
   Se passou uma hora, ou dez minutos, eu não sei dizer, mas decorrido algum tempo ela apagou o abajur e - como não ficava completamente escuro mesmo com todas as luzes apagadas - eu a vi se ajoelhar, apoiar os cotovelos na cama e começar a orar. Ela parecia bastante íntima de Deus, e isso me lembrou a minha mãe. Nessa hora a saudade foi terrível. Não consegui evitar, e comecei a deixar cada lágrima sair.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

10ª parte do conto

A porta se abriu, e num impulso eu levantei da minha cama – quer dizer, da cama do Paulo – e sai do quarto. Não trocamos palavra alguma e eu fui o mais devagar possível ao encontro do Níkolas. Eu não tinha certeza se eu queria vê-lo, se eu queria enfrentá-lo de novo.
   Comecei a pensar em tudo... na minha mãe, na minha vida até ali e principalmente como as coisas seriam dali para frente. Estava tudo muito louco, tudo muito confuso. E se eu tinha certeza de alguma coisa, era que eu iria precisar de alguém, mais do que nunca. Alguém pra estar comigo sempre que eu precisasse... e ali, naquele momento, não havia ninguém além do Níkolas. Isso realmente me assustou!
Quando entrei no quarto ele estava sentado na cama. Quando ele viu que eu tinha aberto a porta, levantou a cabeça de repente, olhou pra mim – eu detestava aquele olhar (ou amava, não sei) – e sorriu.
   - Você ta melhor?
   Fiquei constrangida com a pergunta. Me deu a impressão de que ele tinha pensado que eu estava louca, ou coisa assim. O mais engraçado que o seu sorriso não era de alguém que tinha achado tudo aquilo engraçado, e sim um sorriso de quem se preocupava.
   - Estou sim. – e sorri sem jeito.
Graças a Deus ele se levantou, pegou a toalha e foi se banhar. Ele não disse mais nada e isso me aliviou.
    O fato era que se ele tinha me esperado só pra ver como eu estava, ele se preocupava. Pelo jeito que ele me olhava e sorria quando ele me via eu sabia que ele já me amava, de alguma forma. E, detesto admitir, eu também o amava – de alguma maneira estranha, improvável e desconhecida... mas eu amava!
Como funciona?

   Ela tinha entrado no quarto e parecia assustada por eu ter perguntado ela se ela estava bem. Talvez tenha realmente sido meio indelicado da minha parte, mas o fato era que eu me preocupava. Eu não sabia explicar como aquilo aconteceu, mas eu já sentia alguma coisa por ela.
   Peguei minhas coisas e vim tomar um banho. Eu precisava relaxar, precisava me concentrar para colocar tantos pensamentos e tantas coisas em ordem.
    Eu não acredito no amor, eu não acredito que as pessoas podem se amar como eles dizem que podem, e também não acredito que pra ser feliz é preciso ter alguém. Amor nunca trás felicidade, nunca! No meu modo de ver as coisas, existem apenas duas coisas no universo: interesse e amigos – e eu não tenho nenhum dos dois.
Mas naquele dia, vendo ela ali, eu fiquei com medo de estar sentindo a coisa que eu achava mais idiota. Fiquei com medo de que toda a certeza e toda força que eu fazia para manter essa certeza viva em mim, acabasse ali. Eu fiquei com medo, realmente, de estar amando.
   Isso me deixava com medo, com muito medo.




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

9ª parte do conto

Quando eu o vi falando daquele jeito com a Elizabeth, eu queria partir pra cima dele.
    Se ele tinha reparado ou não que ela estava chorando, eu não sabia. Só sei que ele não amenizou o seu tom de voz com ela. Ela, sem dizer palavra alguma, e ainda chorando, saiu do quarto correndo.
   Eu queria sair atrás dela e abraçá-la, consolá-la.
Com um ódio imenso se apossando de cada pedaço do meu corpo, eu gritei:
   - Você não tinha o direito de falar assim com ela, palhaço.
   O Paulo pareceu se assustar. Começou a rir com uma cara de deboche e disse:
   - Não? E por quê?
   - Se você não reparou, ela estava chorando. Ela estava com medo e eu queria ajudar.
   - Nossa, então vocês viraram melhores amigas? Que lindo de vocês! – ele disse em um tom completamente sarcástico. – Eu to pouco me ligando pro que ela ta passando ou não!
   Eu realmente teria partido pra cima daquele idiota se não fosse a fiscalização batendo e logo em seguida abrindo a porta.
 O soldado entrou no nosso quarto. Acho que ele percebeu que havia alguma coisa errada ali, algum peso na atmosfera. Mas não perguntou nada. Olhou, olhou, olhou e saiu.
   Quando ele saiu, olhei pro Paulo com todo ódio que consegui reunir. Ele não disse nada. Simplesmente foi até o banheiro, pegou alguma coisa, e saiu.
   Eu não sabia o que fazer, só sei que queria tê-la ali perto de mim, de novo.

Ele me amava, com certeza.

    Eu tinha me assustado com a rapidez e a maneira que o Paulo tinha entrado no quarto e brigado comigo. Eu tinha me assustado e isso se somou com a vergonha que eu estava por ter abraçado o Níkolas tão de repente... então eu corri. Não vi nada mais próprio pra se fazer.
    A soldado tinha entrado, conferido tudo, e tinha saído. Eu sabia que a qualquer momento o Paulo voltaria e eu teria que voltar e encarar aqueles olhos do Níkolas me olhando de uma maneira que eu não entendia. Eu não sabia, até agora, o que me apavorava mais: os olhos dele ou toda essa história de quartos clandestinos.
Eu estava prestes a falar tudo pra ele quando o Paulo entrou no quarto, e eu era capaz de agradecer por isso ter acontecido... conversar sobre sentimentos nunca foi o meu forte, ainda mais com uma pessoa que eu tinha acabado de conhecer. Mas é que quando o desespero bate, a gente faz coisas que não pensamos, literalmente.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

8ª parte do conto

sem muito blablablá, vamos ao conto :





Estranho, mas foi sincero!

    ... eu o abracei. Era estranho, mas era sincero. Ele tinha chegado e se apresentado como Níkolas e era só isso que eu sabia dele. Mas tinha alguma coisa no jeito como ele falava, no jeito como ele tentou me tranqüilizar, que me chamou a atenção.
   Sim, ele poderia ser um louco, ou um ladrão, ou um psicopata, ou qualquer outra coisa, mas o fato era que eu sabia, sem saber como, que eu poderia contar com ele.
   Eu o abracei, num impulso. Uma pequena distância me separava dele, e foi fácil alcançá-lo.
    De imediato ele pareceu sem reação, e é claro que eu esperava isso dele. Mas depois de algum tempo, senti as mãos dele nas minhas costas e me dei conta de que ele estava retribuindo o abraço.
Ficamos ali algum tempo, daquele jeito. Quando eu finalmente o soltei ele olhou pra mim como se aquele abraço tivesse calado toda a voz dele. Me perguntei se ele estava me achando louca, mas sem precisar dizer nada, ele me disse:
   - Nossa, você é estranha.
    Eu me assustei com isso. Pelo o que eu sabia era meio inconveniente dizer a uma pessoa que ela era estranha. Acho que ele percebeu, pela minha expressão, tudo o que eu pensei.
   Com uma risadinha, disse:
   - Não, não foi isso que eu quis dizer. É que me pegou de surpresa, foi só.
   - Desculpa, mas é que eu precisava disso.
    - Não precisa se desculpar. As pessoas tem essas necessidades mesmo, e eu te entendo perfeitamente. Eu também queria ter alguém assim, pra confiar, e não tenho. Talvez você assim também, e eu acho super normal o que você fez.
   Acho que ele tinha lido meus pensamentos.
- É, eu estou meia desesperada por algum carinho, ou alguma coisa assim. – e sorri meio sem graça.
   - Sei bem como é isso.
    Ali, naquela hora, com o sorriso que ele deu, eu tive certeza de que eu estava em frente a alguém que não seria apenas o ‘meu companheiro de quarto’. Ele seria mais que isso... com certeza seria.


 Um idiota a mais.

    Ela me olhava de um jeito tão diferente. Eu podia sentir o calor do repentino carinho que ela sentia por mim. Ela era Elizabeth, e eu só sabia isso até agora.
   Minha mãe dizia que quando uma pessoa começa a abrir o coração para a gente, nós devemos escutar, afinal, é no coração que as coisas mais puras e verdadeiras estão guardadas... é no nosso coração que estão nossos medos, nossas fraquezas, nossas vergonhas... é o coração que guarda o mais puro e o mais detestável sentimento. Há coisas que uma pessoa guarda pra si mesmo a vida inteira... e aonde? No coração. E um lugar assim, onde guardamos nossa identidade, deve ser bem cuidado. Não devemos abri-lo e expô-lo assim, tão fácil. E ali, vendo que ela estava abrindo o coração pra mim, vendo que ela tinha começado a me contar seus sentimentos mais íntimos, eu esqueci do mundo e prestei atenção unicamente nela. Não estava sendo fácil – eu via isso pelo fato de que ela não estava falando mais nada -, mas de ver ela ali, olhando pra baixo, tentando reunir forças e escolhendo o que falar, eu pude compreender que ela tinha muita coisa pra botar pra fora. Eu iria ouvi-la e ficaria ali, dias e dias se fosse preciso, esperando ela se abrir comigo. Aquele silêncio fazia parte da ‘abertura-do-coração’, e eu sabia que se eu ficasse ali, esperando, talvez ela chegasse a conclusão de que eu não era igual aos meninos que ela era acostumada a conversar. Por curiosidade, por amor, por compaixão, eu não sei... mas só sei que esperei.
 Depois de ter esperado um longo tempo, parado ali em frente a ela como um idiota, ela levantou a cabeça, suspirou tentando engolir o choro, e começou a falar:
   - Eu não estou com medo do que vai acontecer aqui dentro comigo, eu estou com medo do que vai ser e de como vai ser quando eu sair daqui. Eu não quero voltar pra casa da minha tia, não quero ter que ficar la me sentindo completamente inferior.
   Eu não entendi nada do que ela estava falando. Ela dizia como se eu a conhecesse a séculos e soubesse de cada coisa que ela tinha passado.
   De repente a porta se abriu. Era o Paulo que entrou morrendo de raiva e gritando:
   - Eu disse que era sete horas. Já são mais que isso. Se nos pegarem a culpa é sua, menina.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

7ª parte do conto

Comentem, por favor .
vamos ao conto :




Eu percebi que ela era do tipo de pessoa que, ou você fazia o que ela mandava, ou então você se meteria numa baita encrenca. Assenti com a cabeça e levantei pra sair.
   - Espera, eu vou te levar até la. – ela disse.
   Ela se levantou e me levou a um quarto que ficava no andar superior.
    Pelo o que eu vi, aquilo la era comum. Quer dizer, não muito comum, mas tinha pessoas que faziam isso. Geralmente era os alunos mais velhos. Acho que a disciplina, naquele ponto ali, era falha. Ela me deixou na porta de um quarto e disse:
   - É ai. Deixa suas coisas e volta la pro meu quarto as sete. A fiscalização é por volta dessa hora.

 Sempre que as pessoas faziam algo de errado, nada acontecia. Mas quando eu resolvia fazer, sempre eu era descoberta. O medo se aposso de mim. Quando entrei eu vi que o quarto estava vazio, não tinha ninguém. Não tinha nada, exceto por algumas peças de roupa masculinas, que imaginei que fosse do Paulo para despistar os fiscais. Imaginei que aquela fosse minha cama, e então coloquei minhas coisas nas gavetas em baixo da cama de modo que nada aparecesse. Na outra cama tinha um livro aberto e eu sentei para lê-lo. Quando peguei o livro nas mãos a porta se abriu e de um salto eu me levantei, toda sem jeito.

Minha estranha colega de quarto.

    Eu tinha acabado de subir pro meu quarto e quando abri a porta vi uma menina que parecia ter acabado de fazer algo muito errado. Depois de reparar bem vi que ela estava lendo meu livro, e tinha apenas se assustado com o abrir da porta.
   Ela me olhou de um jeito que me fez sentir o que eu nunca havia sentido. Sua expressão de imenso horror me seduzia, em alguma parte de mim.
   - Oi.
   Ela pareceu se assustar com o fato de que eu pudesse falar. Parecia que ela pensava que eu era algum boneco sem boca e sem curiosidade. Olhou pra baixo, num ato de extrema timidez:
   - Oi. – ela respondeu.
- O que você esta fazendo aqui?
   - Não sei.
   Não entendi o que ela quis dizer, mas decidi não perguntar. Ela parecia frágil demais pra qualquer questionamento.
    Ela olhou na minha direção e me perfurou com aqueles olhos tão pretos e tão intensos. Eu tive a sensação de que ela carregava consigo muita coisa, muita coisa além do que eu podia imaginar.
- Me mandaram ficar aqui. – ela disse. O medo era perceptível na sua voz. - Tem um menino no meu quarto, no meu lugar. Acho que o lugar dele é aqui e ele quer trocar comigo e me disse que se eu não ficasse aqui ele ir...
   - Ta, já entendi. – eu a interrompi. - Eles fazem isso por aqui. Prazer, meu nome é Níkolas. - eu disse estendendo a minha mão.
   Ela sorriu constrangida e estendo a mão pra pegar na minha, respondeu:
   - Prazer. O meu é Elizabeth.
Tinha alguma coisa naquele sorriso, naquele jeito, que eu não conseguia entender, mas que me atraía. Não com segundas intenções, mas eu me apaixonei por aquela menina. Não no sentido literal da palavra... eu sabia que ela tinha passado por muita coisa e eu me apaixonei pela história dela antes mesmo de saber como era. Eu queria desvendá-la, conhecê-la, saber tudo sobre ela.
   Mas de repente o sorriso de sumiu e eu vi que ela estava a beira de lágrimas.
   - Ta acontecendo alguma coisa?
   - Eu estou com medo, medo que alguma coisa aconteça.
Eu não sabia exatamente o que a fazia ter medo, mas sabia que não queria vê-la daquele jeito.
    - Não se preocupe, Elizabeth. Nada vai acontecer. As pessoas fazem isso e eu acho que tem gente que sabe, mas aqui nunca foi uma escola muito rígida, pelo que sei. Não como a gente imagina quando dizem que é uma escola militar. Nada vai acontecer, calma.
   Se ela confiava em mim, eu não sei. Só sei que pareceu se tranqüilizar.
    Ela olhou pro chão um longo tempo e eu me senti um perfeito idiota de estar ali olhando pra ela, sem fazer nada, sem perguntar nada. Ela estava chorando, estava desesperada, mas eu não sabia o que fazer, não sabia o que falar. Foi quando, de repente...










segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

6ª parte do conto

por favor leitores(as), não se esqueçam de comentar pra eu saber se estão gostando.
vamos ao conto :

Tudo muda, tudo se transforma, enfim, parte 2.

    Era seis horas quando minha mãe veio me acordar. Ela tinha uma ternura na maneira com que falava comigo, embora não conseguisse esconder a tristeza e apreensão que estava sentindo com essa minha repentina mudança.
   - Bebê, levanta. Esta na hora.
   Levantei, peguei meu uniforme devidamente passado e engomado e vesti. Fui tomar café e tinha uma mesa linda me esperando. Era assim: ou você tinha muitas coisas, ou você não tinha nada. Me sentei e comecei a comer.
- Seu pai recusou a se levantar pra despedir de você, filho. – disse a minha mãe como uma tristeza inconfundível na voz.
   - Imaginei que isso aconteceria. Ele vai demorar entender minha decisão, mas uma hora acredito e espero que ele entenda.
    Ela abaixou a cabeça e fitou o prato durante um longo tempo. Eu sabia que estava deixando triste a pessoa que eu mais amava, mas era necessário.
   Ela me levou pra escola. Cheguei, desci do carro, pedi a benção dela, beijei-a no rosto e disse que a amava mais que tudo. Ela se emocionou e apenas me abraçou. Não tinha problema ela não ter respondido, eu sabia que ela diria o mesmo pra mim!

Tudo tão estranho!

   Eu entrei na escola, mas estava com um grande medo. Eu estava certa, as meninas já tinham suas companhias, suas turmas. Procurei alguém que parecia responsável o bastante pra perguntar o que eu deveria fazer. Achei uma policial que parecia ser um encanto e perguntei:
   - Com licença, estou chegando hoje e queria saber onde me instalar?
   Ela olhou pra mim com imenso desprezo e com uma voz como se não ligasse respondeu:
   - Procure a sessão de alojamentos, não posso te ajudar.
    Eu sai pedindo informação pra saber onde era tão sessão – aquela escola parecia muito maior vista de dentro – e quando finalmente achei o responsável, ele me levou ao meu quarto. Subimos, subimos, subimos e chegamos. Me entregaram a chave e me deixaram la sozinha.

Eu abri a porta e estava uma zona o quarto. Tinha duas camas, mas todas as duas estavam ocupadas. Peguei minhas coisas e desci as escadas pra dizer que tinham me colocado no quarto errado.
   - As camas estão ocupadas. Acho que vocês me colocaram no quarto errado.
   - Seu nome, por favor.
   - Elizabeth Pereira Silva.
   Depois de consultar a lista novamente, ela disse:
   - Não senhorita, esta certo. Quarto 112.
Sem entender subi de novo, abri a porta e deixei as minhas coisas num cantinho. O mais engraçado é que em cima de uma das camas parecia ter coisas masculinas. Mas eu não fiz nada, desci para o pátio e fiquei esperando pelas instruções de alguém... eu estava completamente perdida.
A aula foi boa, mas achei tudo muito estranho. Meninos não podiam ficar com conversa com as meninas, e as coisas eram totalmente diferentes das demais escolas.
   Quando voltei ao dormitório e abro a porta vejo um casal de namorados se beijando na cama. Era inadmissível aquilo na escola, e quando eles me viram, levaram um susto.
   - Quem é você? – a menina me perguntou e eu percebi seu tom de autoridade.
   - Eu vou ficar nesse quarto, com algum de vocês.
   Eles riram e ele disse:
   - Não, você vai ficar no meu quarto, no meu lugar.
   - Não, eu vou ficar aqui. Aqui que eu tenho que ficar.
Eu não sabia, mas acho que era um pouco obvio que alguém passasse vistoriando os quartos.
    Eles riram mais uma vez, e com um jeito estranho, a menina levantou, me puxou pelo braço e me sentou ao lado dela na cama e com uma voz claramente fingida disse:
   - Meu bem, nessa escola você deve ter as amizades certas pra não se meter em problemas. Eu, com certeza, sou uma amizade certa. Posso estragar ou encantar sua vida aqui nessa escola. Então, para o seu bem, você vai pro dormitório do Paulo. Você vem pra cá as sete da tarde e depois da fiscalização você volta pro quarto dele.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

5ª parte do conto

Agosto de 1976, parte 2

   Há um mês atrás eu tinha uma namorada. Eu pensava que ela era daquelas únicas pessoas que me amasse de verdade. Quando eu disse dos meus planos de viver uma vida normal, ela simplesmente parou de falar comigo. Mas antes de sair completamente da minha vida, ela me disse:
   - Eu namorava com você porque você era diferente, agora você vai se tornar comum demais pra mim.
   Eu entendi que essa ‘diferença’ que eu tinha, era ser rico.
Depois disso desacreditei que existia amor, desacreditei que as pessoas são capazes de se doar umas as outras pelo simples fato de se gostarem. Mas passei a acreditar mais ainda em interesse e tive mais convicção que dinheiro não trás felicidade. Eu poderia falar que passei a dar valor nos meus amigos, mas quais amigos? Eu não tinha!
   Se tinha alguém na minha vida que eu dava valor, era na minha mãe. Ela sim era mulher que merecia tudo que eu poderia sentir. Estava comigo a todos os momentos, em todas as dificuldades, e acima de tudo, era a milha melhor amiga. Acho que isso era o importante, isso que valia a pena!

Tudo muda, tudo se transforma, enfim.

    Eu acordei as cinco horas da manhã com o despertador gritando ao meu lado. A casa estava em total silêncio. Levantei e quando olhei pro meu uniforme em cima de uma cadeira ao lado da minha cama me dei conta de que ele não tinha sido passado. Andei pela casa naquele silêncio imenso e não achei nenhum ferro pra poder passar minhas roupas... o jeito era ir com aquele uniforme todo amarrotado. Quando o vesti vi que a minha prima tinha comprado o maior numero da loja. Eu estava parecendo um saco de batatas, mas não tinha outra solução. Definitivamente aquele não seria um bom primeiro dia de aula.

Quando eu chego na cozinha é que eu me dou conta de que não havia café, nem nada. Eu não queria acordar a Val – era o apelido ‘carinhoso’ da minha prima. Comi um pão que estava em cima da geladeira e voltei pra conferir as minhas coisas no meu ‘quarto’. Eu não tinha nem desfeito a minha mala – que era minúscula – e agora era só colocar as poucas coisas que eu tinha tirado, dentro dela de novo e ir pra escola.
   O segundo semestre já tinha começado a uma semana e eu sabia que a essa altura as pessoas já haviam feito amizades e as panelinhas haviam se formado. Encontrar algum amigo agora iria ser difícil.
Eu tinha uma vaga noção de onde era a minha escola. Tínhamos passado em frente quando estávamos voltando da rodoviária.
    Peguei minha mochila e saí. Ainda estava um pouco escuro, com alguns raios solares atrás dos prédios, e o medo se apossou de mim. Mas continuei andando.
   Andei, andei, andei, andei e não cheguei. Pensei ter pegado o caminho errado. Mas não tinha outro jeito, tinha quer por ali. Andei mais um pouco e finalmente avistei a escola. Me deu um alívio e apressei o passo... eu estava atrasada.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

4ª parte do conto

sem muito blablablá, vamos ao conto :


Muito prazer, parte 2!

   Oi, meu nome é Níkolas, e hoje eu tenho 16 anos. Foi estranho ter saído de casa tão cedo. Quer dizer, eu não saí completamente de casa porque ainda vou voltar nos finais de semana, mas acho muito errado a idéia que meu pai tem ao pensar que eu quero seguir os passos dele. Sempre tive as melhores escolas, as melhores roupas e as melhores coisas, mas agora decidi que não é isso que eu quero. Eu quero ter minha independência, mesmo que parcial.
Meu pai é um grande engenheiro e as vezes me pressiona a ser o mesmo. Mas eu não quero isso pra mim! Eu quero, mesmo que pareça idiota, pilotar aviões. É meu grande sonho. Já andei varias vezes de avião, mas eu quero, futuramente, sentir a emoção de pilotar um. Meu pai, como muita gente, não entende esse desejo... dizem que não se ganha muito dinheiro, mas quem disse que eu quero muito dinheiro? As pessoas tem realmente essa mania de achar que todo mundo é igual né? Isso me irrita!
Desde pequeno eu vivi rodeado por grandes fortunas e vejo o que ela fez com a minha vida e a vida da minha família: eu nunca tive amigos verdadeiros, daqueles que se pode contar a toda hora... se eu ficar pobre amanhã, todos somem! O casamento dos meus pais? É uma droga... meu pai trabalha tanto que eu e minha mãe raramente o vemos. Eu realmente não quero nada disso, eu não quero que coisas materiais estraguem a minha vida! Talvez seja a essa uma das únicas certezas que eu tenho, mas com certeza é mais forte de todas.
É justamente tamanha certeza que me fez agarrar a primeira oportunidade de sair de casa. Abriu algumas inscrições pra escola militar, uma escola onde tem dormitórios e a gente fica a semana toda, sem voltar pra casa. Eu fiz a inscrição e pra surpresa geral, fui chamado.
   - Níkolas, eu sempre fiz de tudo pra você ter as melhores coisas e agora você vai desperdiçar tudo isso indo pra uma escola de gente comum?
   - Pai, eu sou uma pessoa comum!
   - Você não é comum, filho. Você é herdeiro de uma grande empresa, tem que ter alguma instrução pra dar continuidade aos negócios.
   Eu simplesmente saí. Não queria mais uma vez aquela discussão que não iria levar a nada.
Minha mãe tinha grande dificuldade pra engravidar, mas sempre foi muito íntima de Deus e como um milagre se engravidou de mim. Eu era filho único e sabia que seria assim pra sempre. E justamente por isso eu sabia que toda a responsabilidade sempre seria minha.
   Mas eu estava cansando de ter coisas falsas na minha vida: o falso casamento dos meus pais, os falsos amigos, os falsos sonhos, as falsas alegrias. Tudo que eu tinha eu sabia que era por causa do dinheiro e tudo que eu sentia falta eu também sabia que era por causa dele. Entrando praquela escola eu seria totalmente desconhecido, seria como qualquer outra pessoa e talvez eu teria amigos verdadeiros. Amigos que gostassem de mim, e não da minha conta bancária.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

3ª parte do conto

Gente, não esquece de comentar , por favor se não eu vou parar de postar.
OBS.: vou postar uma parte maior hoje, a pedidos :D

Ah, mas era a década de 60 e falar de mulher bem sucedida era pecado. As mulheres não tinha vez, não tinham voz. Era como se nós tivéssemos nascido pra trabalhar, e como se a minha mãe estivesse no lugar certo e não tivesse o direito de mudar isso.
    Mas eu não pensava como ela, eu não pensava em ficar calada e quieta. Eu ainda era nova, mas sabia que não passaria a vida inteira como ela tinha passado a dela.
Meu grande sonho era ser uma grande pianista. Eu tinha herdado isso da minha avó, além do meu nome. Eu achava lindo sentar naquele banquinho e começar a tocar, tecla por tecla, aquela música calma e com um som inconfundível de paz.
   Paz? É, eu precisava de paz. Como não podia tê-la no mundo, eu decidi tê-la dentro de mim.


Agosto de 1976

    Eu estava chegando da escola quando presenciei a pior cena da minha vida. Cheguei em casa e ouvi gritos logo na entrada. Corri e quando cheguei o quarto o Jorge estava agredindo minha mãe.
   Eu gritei, queria matá-lo na hora, mas ele veio com uma cara muito estranha na minha direção e foi me encurralando. Eu tentei sair, mas não tinha como. Ele começou a passar a mão pela minha cintura e ficar se esfregando em mim. Subiu a mão pra dentro da minha blusa e quando eu percebi as reais intenções dele tentei empurrá-lo, mas ele era bem mais forte que eu.

Só lembro da minha mãe gritar e pular pra cima dele. Eu saí correndo, e sai do quarto. Na mesma hora arrumei todas as minhas coisas, que não eram muitas, e fiquei pensando pra onde ir.
    Eu não sabia o que fazer, pra quem ligar, mas pra minha surpresa eu não era a única que queria que eu saísse daquela casa. Minha mãe já estava planejando isso e foi depois dessa cena que eu vim pra São Paulo, morar com uma prima da minha mãe.
Hoje eu tenho 15 anos. Eu estou com muito medo, muito medo mesmo. É tudo tão diferente onde estou agora. Tudo muito diferente de onde eu vim.
   O ônibus chegou já faz quase uma hora e ninguém veio me buscar ainda. É muito grande essa rodoviária e eu não conheço ninguém. Ninguém mesmo, nem a minha prima. Talvez ela seja a moça sentada do meu lado ou talvez aquela velhinha ali encostada no guichê... ou talvez ela realmente tenha se esquecido que eu vinha e não veio me buscar.
Já era noite quando finalmente uma mulher daquelas com a cara bastante fechada chegou e me perguntou se eu era Elizabeth. De todas as pessoas daquela rodoviária, ela era a ultima pessoa com quem eu queria ir embora. Mas fui.
   Ela nunca sorria e só dizia o necessário, que por sinal era bem pouco. Era como se eu estivesse um peixe literalmente fora d’água.
Amanhã começa as minhas aulas. É um colégio totalmente diferente do que eu tinha... é militar! Entramos segunda de manhã e só saímos nas sextas a tarde. Mas eu me determinei que vou estudar. Alguma coisa eu tenho que ser né? E no que eu decidir seguir, eu vou ser a melhor!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

2ª Parte do conto

Oi meninas, vim postar mais uma parte do conto.
aí está


Mas um dia tudo melhorou. Minha mãe começou a sorrir mais e na nossa casa nunca mais faltava nada. Ela começou a trabalhar menos, mas as nossas coisas aumentavam. Ela tinha um brilho diferente no olhar, um jeito mais leve de falar, de agir. Era perceptível que ela estava feliz e um dia o Jorge veio morar conosco.
   Foi ai que eu entendi de onde vinham tantas coisas e o porque que a minha vida tinha melhorado tanto.
Eu comecei a vê-lo como um pai pra mim e acho que ele me considerava uma filha de verdade. Mas todo encanto que se preze, acaba. E o dele acabou bem rápido.
 Ele perdeu o emprego e as coisas na minha casa tinham começado a piorar. Pra desespero total, ele tinha começado a beber. Mas não era como pessoas civilizadas... ele bebia e chegava em casa louco. Gritava, xingava e - eu descobri isso muito tempo depois - até batia na minha mãe.
Eu ficava intrigada com aquilo, ficava sem entender por  que a minha mãe nunca fazia nada. Depois de algum tempo eu comecei a entender que tudo que ela passava era por mim. Afinal, o Jorge podia ser um nojento, mas era ele quem colocava comida em casa, ele quem nos sustentava de alguma maneira. Mesmo sem emprego, desde que ele tinha aparecido na minha casa, nunca mais eu tinha sentido fome.
Quando eu passei a entender os reais motivos da minha  mãe, eu comecei a ter raiva de mim mesma. Ser responsável por tamanho sofrimento e as vezes tão poucas alegrias era dolorido. Eu não sabia disso durante um longo tempo, mas quando descobri, me senti horrível. Foi quando eu descobri tamanhos horrores que eu decidi e jurei pra mim mesma que eu faria tudo pra ver um sorriso de orgulho no rosto da minha mãe.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

1ª parte do conto .

Olá , hoje estou aqui para contar uma novidade: Vou postar aqui no blog um conto , a cada dia eu posto uma parte , o conto é muito bonito, espero que gostem .
LEMBREM-SE : comente para que eu continue postando !

Titúlo: Ele sabia amar .

Muito prazer!

   Oi, meu nome é Elizabeth e hoje eu tenho 15 anos. Eu estou com muito medo, muito medo mesmo. É tudo tão diferente onde estou agora. Tudo muito diferente de onde eu vim. Mas você não vai entender assim tão fácil, é melhor eu contar:
Eu tinha 3 anos quando eu ouvi meu pai abir a porta, gritar e batê-la dizendo que estava indo embora da minha casa pra nunca mais voltar. Ele tinha brigado com minha mãe e agora ele estava decidido a ir embora.
   Ele se foi e algum tempo depois minha mãe me disse que ele tinha virado uma estrelinha. Eu não sabia exatamente o que aquilo significava, mas me lembro de muitas noites olhar pro céu e ficar procurando pelo meu pai. Mesmo sem encontrá-lo no meio de tantas estrelas eu pedia pra ele voltar porque minha mãe sempre chorava, e eu imaginava que seria por saudade dele. Mas um dia eu descobri que quando as pessoas se “tornam estrelas” elas nunca mais voltam, e eu percebi que, assim como a minha mãe, eu também podia chorar por isso.
Eu cresci vendo minha mãe trabalhar muito pra nos sustentar. Eu era criança, mas já entendia que naquela época as mulheres ainda eram de certa maneira discriminadas.
   Minha mãe dizia que o dia 7 de abril de 1961 tinha sido o dia mais feliz da vida dela, foi o dia que eu nasci, mas agora eu ficava repensando se ela realmente era feliz por me ter. Ela não ria mais, ela não dizia que me amava, o sorriso dela tinha sumido.
 Ela limpava casas, lavava e passava roupas pra me dar o que comer. Mas as vezes todos os esforços eram inúteis, e mesmo que eu estivesse com fome, eu procurava não falar nada. Eu tentava ficar quieta pois eu sabia que se eu pedisse ela iria dizer que não tinha comida e iria pro seu quarto chorar. Eu estava cansada de ver a minha mãe daquele jeito, chorando tanto. Eu queria poder ajudar, mas eu tinha cinco anos e não tinha muita coisa que eu pudesse fazer.


Eu continuo postando amanhã ...
beijos :*

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O trote e a violência


O trote estudantil é uma tradição que consiste na prática de brincadeiras dos veteranos ( alunos antigos ) com os calouros ( recém-chegados ). O problema, é que essa " brincadeira " pode acabar em violência e em alguns casos, morte.

Na década de 80, o calouro Carlos Alberto de Souza, 20 anos, morreu de traumatismo cranioncefálico, resultante de agressões. Em 1990 o estudante de 23 anos, George Mattos, morreu de uma parada cardíaca, ao tentar fugir dos veteranos. No ano passado, o aluno Vitor V. M. de Souza, 22 anos, morreu afogado e, segundo suspeitas, ele foi obrigado a entrar na piscina, mesmo sem saber nadar.

Não é tão fácil de livrar do trote. Ao calouro que se recusa a participar das atividades, são impostas várias represálias: agressões, bullying (violência física ou psicológica com o objetivo de intimidar ou agredir um indivíduo ) e ser, em casos extremos, considerado "bixo eterno", que é o aluno que jamais alcançará o status de veterano.

Nos últimos anos, devido às mortes provocadas por trotes violentos, as instituições de ensino tentaram amenizar ou eliminar essas práticas criando o "trote solidário". Essa medida consiste nas atividades assistencialistas que coletam alimentos não-perecíveis e roupas , que são doadas para creches, asilos e orfanatos. Campanhas de doação de sangue também estão incluídas.

Alguns calouros para se prevenir do trote só começam a estudar após algumas semanas, prejudicando os estudos. É comum também a formação de salva-calouros, veteranos fiscais que controlam o nível dos trotes. De qualquer maneira, é melhor evitá-lo ou retirar-se, a qualquer custo, quando a atividade estiver prejudicando sua saúde física e/ou mental e, se necessário, comunicar a um responsável.


Por: Cindy Ferreira.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Oi gente,
esse video é com uma música de um garoto chamado Vitor Gabriel de Piúma-ES, bem eu achei a letra maneira e to querendo dividir com vocês.
Caso vocês tenham gostado comentem, que eu posto mais, Ok ?!
beijos :*




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

momento reflexão .

para começar , vou postar uma música para 'reflexão'

Coração Blindado

Engenheiros do Hawaii

Composição: Gessinger/fonseca/ayala/aranha/pedro A.

Fácil falar
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil pintar o quadro geral
Da janela de um arranha-céu

Sem ter que sujar as mãos
Sem ter nada a perder
Sem o risco de pagar pelos erros que cometeu

Fácil achar o caminho a seguir
Num mapa com lápis de cor
Moleza mandar a tropa atacar
Da tela do computador

Sem o cheiro
Sem o som
Sem ter nunca estado lá
Sem ter que voltar pra ver o que restou

Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Fica mais fácil

Fácil demais
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil sonhar condições ideais
Que nunca existirão

Sempre a distância
Sem noção
O que rola pelo chão
Não são as peças de um jogo de xadrez

Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Tudo é tão fácil

-

será que estamos usando o 'computador' para fugir das nossas responsabilidades para com as coisas que acontecem ?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Blog

Olá ! Bem-vindo ao blog: Blogviously . Retratos do mundo !

Trataremos nesse blog de temas diversos, espero que gostem.