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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

14ª postagem

Nós ficamos ali abraçados um bom tempo.
    Enquanto o tempo passava e nós dois ficávamos ali, sem falar nada, um turbilhão de pensamentos iam me atingindo: eu não sentia por ele o mesmo desejo que eu senti ao ver o menino na escada. Eu não sentia vontade de beijá-lo ou coisa assim. Era a companhia, a preocupação – embora pouco demonstrada – e o jeito dele que me agradava. Isso era completamente diferente de todo o resto.
   Foi ai que eu vi que não tinha nada de atração entre eu e ele... quer dizer, havia sim. Havia uma vontade imensa de ficar junto, de compartilhar as coisas. Mesmo sem dizer nada, era confortante o fato de que ele estava ali em algum lugar. Mesmo sem nunca termos conversado muito ou termos compartilhado momentos, eu não me via mais sem ele. Eu não sabia se seria possível eu existir sem que ele estivesse comigo. Era como se naquela semana em que nós ficamos sem dizer quase nada um para o outro, nós estivéssemos lendo nossos pensamentos.
   Ele não se abriria daquela forma comigo se eu não significasse nada para ele, e eu não o ajudaria se ele não significasse nada para mim. Eu compreendi que o valor que nós tínhamos um para o outro era indiscutível. Havia entre nós dois o que muitas pessoas chamam de amizade... mas eu preferia chamar de amor mais sublime!

Tudo tão difícil.

    Diferenças a parte, ele era meu pai. Embora não houvesse entre nós muito entendimento eu o amava de alguma maneira, e não tê-lo mais comigo era simplesmente insuportável.
   E a minha mãe? Nossa, estava inconsolável. Ela, naquela casa enorme, sem ninguém. Eu fiquei com ela durante algum tempo, mas eu tive que voltar para a escola e isso não era nada agradável.

Como se já não bastasse tudo isso, tinha a Elizabeth.
    Eu sentia por ela o que eu nunca havia sentido por ninguém. Mas eu não sabia explicar se era só amizade ou algo mais, afinal, eu nunca havia sentido nenhum dos dois em toda a minha existência. Tudo era muito confuso.
   O fato era que eu não conseguia mais me afastar dela, eu queria muito ficar com ela o tempo todo, e a força que ela tinha me dado no quarto foi inesquecível.
Eu deitei para dormir, sem saber no que pensar.
    Eu fechava os olhos e a imagem do meu pai invadia a minha mente juntamente com a expressão de preocupação no rosto da Elizabeth.
   Era duas coisas que eu não queria esquecer, mas não queria lembrar agora.
Mas a vida tem dessas coisas né? Quando a gente procura tirar tudo da cabeça, quando a gente quer ter uma aminésia e esquecer de tudo que a gente já passou e esta passando, é realmente quando as coisas não saem por nada do pensamento.
   O pior é que as coisas também sempre acontecem todas de uma vez, uma atrás da outra, sem pedir licença nem nada. Vão acontecendo, acontecendo, acontecendo e é inevitável que você não fique um pouco doido com tantas coisas.
Eu tentei dormir e tentei esvaziar a minha mente, mas não consegui – nem dormir, nem deixar de pensar.
    Noites de insônias estavam sendo normais, mas eu teria que enfrentar um dia cheio e eu precisava mesmo descansar. Mas não dava para dormir com tudo aquilo.
Quando finalmente peguei no sono, o dia amanheceu – outro detalhe desagradável que sempre acontece.
   Fui assistir as minhas aulas.
    A repentina intimidade que tinha surgido entre eu e a Elizabeth na noite interior parecia ter desaparecido, embora eu quisesse muito aquele abraço de novo.
   Nós nos levantamos e saímos do quarto sem falar nada um com o outro como.
   Na hora do almoço não nos encontramos e depois da aula eu resolvi ficar até mais tarde na biblioteca.

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