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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

9ª parte do conto

Quando eu o vi falando daquele jeito com a Elizabeth, eu queria partir pra cima dele.
    Se ele tinha reparado ou não que ela estava chorando, eu não sabia. Só sei que ele não amenizou o seu tom de voz com ela. Ela, sem dizer palavra alguma, e ainda chorando, saiu do quarto correndo.
   Eu queria sair atrás dela e abraçá-la, consolá-la.
Com um ódio imenso se apossando de cada pedaço do meu corpo, eu gritei:
   - Você não tinha o direito de falar assim com ela, palhaço.
   O Paulo pareceu se assustar. Começou a rir com uma cara de deboche e disse:
   - Não? E por quê?
   - Se você não reparou, ela estava chorando. Ela estava com medo e eu queria ajudar.
   - Nossa, então vocês viraram melhores amigas? Que lindo de vocês! – ele disse em um tom completamente sarcástico. – Eu to pouco me ligando pro que ela ta passando ou não!
   Eu realmente teria partido pra cima daquele idiota se não fosse a fiscalização batendo e logo em seguida abrindo a porta.
 O soldado entrou no nosso quarto. Acho que ele percebeu que havia alguma coisa errada ali, algum peso na atmosfera. Mas não perguntou nada. Olhou, olhou, olhou e saiu.
   Quando ele saiu, olhei pro Paulo com todo ódio que consegui reunir. Ele não disse nada. Simplesmente foi até o banheiro, pegou alguma coisa, e saiu.
   Eu não sabia o que fazer, só sei que queria tê-la ali perto de mim, de novo.

Ele me amava, com certeza.

    Eu tinha me assustado com a rapidez e a maneira que o Paulo tinha entrado no quarto e brigado comigo. Eu tinha me assustado e isso se somou com a vergonha que eu estava por ter abraçado o Níkolas tão de repente... então eu corri. Não vi nada mais próprio pra se fazer.
    A soldado tinha entrado, conferido tudo, e tinha saído. Eu sabia que a qualquer momento o Paulo voltaria e eu teria que voltar e encarar aqueles olhos do Níkolas me olhando de uma maneira que eu não entendia. Eu não sabia, até agora, o que me apavorava mais: os olhos dele ou toda essa história de quartos clandestinos.
Eu estava prestes a falar tudo pra ele quando o Paulo entrou no quarto, e eu era capaz de agradecer por isso ter acontecido... conversar sobre sentimentos nunca foi o meu forte, ainda mais com uma pessoa que eu tinha acabado de conhecer. Mas é que quando o desespero bate, a gente faz coisas que não pensamos, literalmente.



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