Páginas

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

8ª parte do conto

sem muito blablablá, vamos ao conto :





Estranho, mas foi sincero!

    ... eu o abracei. Era estranho, mas era sincero. Ele tinha chegado e se apresentado como Níkolas e era só isso que eu sabia dele. Mas tinha alguma coisa no jeito como ele falava, no jeito como ele tentou me tranqüilizar, que me chamou a atenção.
   Sim, ele poderia ser um louco, ou um ladrão, ou um psicopata, ou qualquer outra coisa, mas o fato era que eu sabia, sem saber como, que eu poderia contar com ele.
   Eu o abracei, num impulso. Uma pequena distância me separava dele, e foi fácil alcançá-lo.
    De imediato ele pareceu sem reação, e é claro que eu esperava isso dele. Mas depois de algum tempo, senti as mãos dele nas minhas costas e me dei conta de que ele estava retribuindo o abraço.
Ficamos ali algum tempo, daquele jeito. Quando eu finalmente o soltei ele olhou pra mim como se aquele abraço tivesse calado toda a voz dele. Me perguntei se ele estava me achando louca, mas sem precisar dizer nada, ele me disse:
   - Nossa, você é estranha.
    Eu me assustei com isso. Pelo o que eu sabia era meio inconveniente dizer a uma pessoa que ela era estranha. Acho que ele percebeu, pela minha expressão, tudo o que eu pensei.
   Com uma risadinha, disse:
   - Não, não foi isso que eu quis dizer. É que me pegou de surpresa, foi só.
   - Desculpa, mas é que eu precisava disso.
    - Não precisa se desculpar. As pessoas tem essas necessidades mesmo, e eu te entendo perfeitamente. Eu também queria ter alguém assim, pra confiar, e não tenho. Talvez você assim também, e eu acho super normal o que você fez.
   Acho que ele tinha lido meus pensamentos.
- É, eu estou meia desesperada por algum carinho, ou alguma coisa assim. – e sorri meio sem graça.
   - Sei bem como é isso.
    Ali, naquela hora, com o sorriso que ele deu, eu tive certeza de que eu estava em frente a alguém que não seria apenas o ‘meu companheiro de quarto’. Ele seria mais que isso... com certeza seria.


 Um idiota a mais.

    Ela me olhava de um jeito tão diferente. Eu podia sentir o calor do repentino carinho que ela sentia por mim. Ela era Elizabeth, e eu só sabia isso até agora.
   Minha mãe dizia que quando uma pessoa começa a abrir o coração para a gente, nós devemos escutar, afinal, é no coração que as coisas mais puras e verdadeiras estão guardadas... é no nosso coração que estão nossos medos, nossas fraquezas, nossas vergonhas... é o coração que guarda o mais puro e o mais detestável sentimento. Há coisas que uma pessoa guarda pra si mesmo a vida inteira... e aonde? No coração. E um lugar assim, onde guardamos nossa identidade, deve ser bem cuidado. Não devemos abri-lo e expô-lo assim, tão fácil. E ali, vendo que ela estava abrindo o coração pra mim, vendo que ela tinha começado a me contar seus sentimentos mais íntimos, eu esqueci do mundo e prestei atenção unicamente nela. Não estava sendo fácil – eu via isso pelo fato de que ela não estava falando mais nada -, mas de ver ela ali, olhando pra baixo, tentando reunir forças e escolhendo o que falar, eu pude compreender que ela tinha muita coisa pra botar pra fora. Eu iria ouvi-la e ficaria ali, dias e dias se fosse preciso, esperando ela se abrir comigo. Aquele silêncio fazia parte da ‘abertura-do-coração’, e eu sabia que se eu ficasse ali, esperando, talvez ela chegasse a conclusão de que eu não era igual aos meninos que ela era acostumada a conversar. Por curiosidade, por amor, por compaixão, eu não sei... mas só sei que esperei.
 Depois de ter esperado um longo tempo, parado ali em frente a ela como um idiota, ela levantou a cabeça, suspirou tentando engolir o choro, e começou a falar:
   - Eu não estou com medo do que vai acontecer aqui dentro comigo, eu estou com medo do que vai ser e de como vai ser quando eu sair daqui. Eu não quero voltar pra casa da minha tia, não quero ter que ficar la me sentindo completamente inferior.
   Eu não entendi nada do que ela estava falando. Ela dizia como se eu a conhecesse a séculos e soubesse de cada coisa que ela tinha passado.
   De repente a porta se abriu. Era o Paulo que entrou morrendo de raiva e gritando:
   - Eu disse que era sete horas. Já são mais que isso. Se nos pegarem a culpa é sua, menina.

Um comentário: